segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Novelando: Além do Tempo outra vez e muito atrasado...


A primeira fase da novela Além do Tempo terminou em 21 de outubro, ou seja, já se vão quase três semanas que estamos na segunda fase e eu enrolando com este texto.  Espero que minhas reflexões ainda estejam valendo, porque só tive tempo e ânimo para escrever agora e confesso, desde já,  que estou com saudades, afinal, pelo menos para mim, a nova fase não está encantando, na verdade, só me esforço por assistir para ver como a autora fechará a trama que já entrou para a história da teledramaturgia brasileira.  O salto no tempo foi algo ousado, especialmente, depois da sequência de capítulos eletrizantes.

Confesso que raramente me senti tão mobilizada por uma novela quanto por Além do Tempo.  A primeira fase da novela misturou bem aqueles ingredientes novelescos clássicos – amor à primeira vista e, pior, impossível, separação, conflito social, preconceitos, tragédia – de forma tão feliz.  E fez isso dando-se ao luxo de não investir pesadamente em cenas com o casal principal, às vezes, passávamos dois, três capítulos, sem um diálogo direto entre Felipe (Rafael Cardoso) e Lívia (Alinne Moraes).  Trocavam olhares, se cruzavam no casarão, depois que a mocinha lá foi morar, e não trocavam palavra, muito menos beijos.  E a gente ficava com raiva?  Nada!  Queria era ver a história desenrolar.  Mais ainda, houve uma distribuição poucas vezes vista de boas cenas e tramas bem conduzidas entre a maioria das personagens e um elenco que, no geral, mostrou-se muito talentoso.  E algo que eu agradeço, mantiveram o tempo inteiro um registro formal que, se não era perfeito, pelo menos não me dava angústia como no caso de Lado à Lado.


Os clichês estavam todos lá, mas a autora, Elizabeth Jhin, misturou tudo como uma perfeição que não se vê faz tempo e entregou um último capítulo – na verdade, uma seqüência de 4 capítulos, mais ou menos – espetaculares.  Os dois pontos altos sendo a sexta-feira (16/10) e a quarta-feira (21/10).  Olha, o capítulo de sexta foi catártico com o mocinho descobrindo, finalmente, o diário da esposa morta, humilhando a vilã, pegando o cavalo e levando a mocinha embora ao invés de subir ao altar.  Exagerado, excessivamente romântico, mas, gente, e-mo-cio-nan-te! E rendeu elogios à autora da parte de gente como Gloria Perez, fora o topo nos trending topics do Twitter. 

Antes do desfecho trágico, é preciso dizer que o duelo final entre Vitória e Emília foi igualmente importante.  Irene Ravache compôs uma vilã, sim, vilã mesmo, sem tirar nem pôr, que conquistou a audiência pela sua complexidade, pelos sentimentos dúbios que conseguiu inspirar no público e na neta que tinha tudo para odiá-la.  Na reta final da novela, acredito que  a maioria das pessoas sentia por ela muito mais pena que raiva ou desprezo.



Normalmente, as vilãs que caem no gosto popular tem algo da cômico e vulgar, vide Nazaré e Yunet, mas Vitória, não, era a altivez, as palavras cortantes e a eventual fragilidade que conquistavam.  Uma atriz menos talentosa talvez não conseguisse, mas ela atuando com Nívea Maria ofereceram uma das cenas mais tocantes que eu já vi.  Depois, acho eu, de um encontro com Bernardo, o filho razão da obsessão de Vitória e Emília, Nívea Maria e Irene Ravache fizeram uma cena belíssima só com olhares e mãos, nenhuma palavra.  Só grandes damas podem fazer algo assim.

Voltando para Irene Ravache e Ana Beatriz Nogueira o confronto das duas, ocasionado pelo tiro que Vitória desferiu em Bernardo (Felipe Camargo), foi tenso e carregado de ódio.  Apesar de Lívia, ou por causa dela, nenhuma das duas matronas foi capaz de perdoar ou repensar seus atos.  O mais interessante é que isso soou verdadeiro, falso é ver todo mundo se perdoando e mudando de vida assim, do nada, ou, então, sendo contemplado com a morte.  Gente má, ressentida, vingativa, às vezes, tem longas vidas para viver.  No caso de Vitória, ela terminou sozinha.



Só que, ao longo da trama, enquanto Vitória, a algoz, ganhou a simpatia do público, Emília, a vítima, ganhou a desaprovação.  Fácil entender, além da intensidade colocada pela intérprete, Emília agiu ativamente para separar Lívia e Felipe, destilou tanto ódio e rancor, que ganhou antipatia de parte da audiência, mesmo, repito, tendo sido mais vítima do que outras personagens.  Desde o começo, aliás, a coerção sobre Lívia para que fosse freira não conseguiu ser justificada mesmo como cuidado excessivo, era algo obsessivo mesmo, cruel até.

Falando em Lívia, apesar do afeto instantâneo de Vitória por ela me parecer forçado em alguns momentos, ela foi uma mocinha simpática, segura de si, algo raro em novelas.  Lívia enfrentou Melissa, sua superior na escala social, com uma segurança e força convincentes.  Obviamente, e isso é defeito do roteiro, tentaram justificar que só o fez por seu pedigree nobre, algo hereditário.  Eu discordo, a Lívia do século XIX era segura de si e, o mais chocante, mais empoderada que sua reencarnação do século XXI, quando se submete aos caprichos de um noivo possessivo e egoísta.  Aliás, uma das suas melhores frases foi quando disse para Melissa que tinha problemas demais para ficar brigando pro causa de homem.  De protofeminista a moça está meio decepcionante nessa nova fase.


Falando em Melissa, continuo defendendo – não escrevi no primeiro texto, mas coloquei isso no Twitter – que a interpretação de Paolla Oliveira era exagerada.  Ela começou a novela tateando, sem saber definir o tom da vilã, depois, virou uma quase histérica e acabou oscilando entre o drama e o humor.  Não vou dizer que isso estragou o papel, nem estou desqualificando o trabalho da atriz, mas do trio de protagonistas, ela era a mais fraca.  Já Pedro, para mim, é o verdadeiro vilão da história.  Poucas vezes vi uma personagem mais detestável, reunindo tantos defeitos morais quanto ele.  Rancoroso, invejoso, racista, machista, cruel e ciumento.  Nos dias atuais, com conceitos enlouquecidos tipo friendzone, ele deve ser ainda pior.  A sua cena final, quando ele prefere deixar que Lívia, seu suposto objeto de afeto, morra desferindo um golpe fatal no herói sintetizou tudo que de ruim havia na personagem.  E eu não em decidi sobre o ator, Emilio Dantas, não sei se ele é bom ator, não sei mesmo.  Preciso vê-lo fazendo uma pessoa normal para concluir alguma coisa.

De resto, e isso é outro mérito de Além do Tempo, a novela terminou dando destino a todas as personagens.  Separar Raul e Gema não foi legal?  Mas foi um final coerente.  Pérsio desiste de Bianca, que vai com a mãe para Paris, e fica com Rita.  Rosa e Bento (Luiz Carlos Vasconcelos) têm uma conversa que diz muito sobre a personalidade apaixonada dos dois e ela, uma das personagens mais fortes da novela, segue seu caminho.  Deixar Alex (Kadu Schons) com Massimo (Luís Melo) e, não, com Vitória, deu alívio.  Aliás, até para fazer a ligação com as angústias do Alex de nossos dias, poderiam ter gravado alguma cena para flashback mostrando o menino recebendo a notícia da morte do pai.  Não me lembro de novela que tenha conseguido amarrar tudinho de forma razoável.  Final de novela decepciona mais do que recompensa e Além do Tempo foi uma gloriosa exceção.  E temos o salto no tempo...


Primeira coisa, até agora ainda tem gente, inclusive a própria autora, falando em salto de 150 anos.  Olha, a autora não deu datas até quase o fim da primeira fase, mas todo mundo que observasse era capaz de saber que a trama era pós-escravidão (1888) e, provavelmente, pós queda da Monarquia (1889), o figurino sugeria década de 1890.  Cento e Cinquenta anos colocaria a segunda fase na categoria ficção científica, mas eis que em uma conversa da família Pasqualino se fala em inauguração da Torre Eiffel como algo recente.  Bem, temos uma data, agora, 31 de março de 1889.  A novela se passava depois disso, então.  Ainda assim, poucos sites falaram em salto de 120 anos, colocando a novela em 1895... Mas é o que é, deve ser a data original.

O salto no tempo proporcionou à Além do Tempo recordes de audiência, a transição ao som de Together do The XX foi perfeita.  A música passou a tocar constantemente.  Ao contrário da primeira fase, agora, temos DR espiritualista entre o anjo traumatizado com o amor Ariel e o Mestre quase todo o capítulo.  A doutrinação que a autora sabiamente evitara na fase século XIX veio com força total.  Desculpe quem gosta, quem acredita, mas eu fico angustiada com certas situações e vou falar de duas, porque o texto já está grande: a angústia de Alex em relação ao abandono e/ou morte do pai e o casamento de Melissa e Felipe.



Algo que a novela insiste em usar, às vezes muito bem, mas que ao insistir acaba cansando, são os flashbacks fruto do deja vu, afinal, todas aquelas almas têm uma história passada em comum e estão se reencontrando.  Felipe e Lívia, claro, puxando o grupo.  No entanto, por que algumas personagens têm e outras não têm a sensação?  Melissa foi morta por Pedro, imagino que o encontro dos dois fosse causar antipatia, náuseas, mas nada... A vilão tem dores no lugar em que foi ferida na outra vida e, ainda assim, não houve forte reação ao encontro com seu algoz.  Fora isso, até agora, algumas personagens tiveram muito destaque nesta segunda fase, enquanto outras, sequer apareceram... 

Voltando ao conteúdo espiritualista, a alma que habita o garoto Alex traz o trauma do abandono e morte do pai.  Achei bem sacado, e eu nada sei de Kardecismo e outras linhas espiritualistas.  Como pontuei em outro parágrafo, seria bom mostrarem algum flashback.  Agora, em capítulo recente, Felipe fala em levar o menino ao psicólogo e sua mãe, Zilda (*e Nívea Maria aprece ter rejuvenescido uns 10 anos*), diz que não, que o problema do menino é espiritual.  OK, ela poderia dizer isso, mas custava não alimentar o obscurantismo que já permeia a sociedade brasileira e acrescentar, “bom, meu filho, leve ao psicólogo primeiro”?  Esse obscurantismo das tramas espiritualistas da Globo é uma das coisas que me afasta desse tipo de novela.  Vivemos em um país no qual psicólogo e psiquiatra é “coisa de maluco”, onde males concretos são tratados (somente) com oração, exorcismos, benzeduras, passes.  A novela tem função educativa, não deveria ter, mas tem, então, por favor, custa ajudar e não atrapalhar ainda mais?


E vamos o imbróglio da trama central.  No século XIX, Felipe era um sujeito preso em um compromisso arranjado pela tia, não amava a noiva e se apaixonou (*ou reencontrou*) Lívia, a amada de outras vidas.  Ambos eram desimpedidos, porque nossa sensibilidade moderna e ocidental não dá muito valor a casamentos arranjados.  Melissa, além disso, era uma cobra.  Obviamente, sabíamos que ela iria sofrer, pagar, por assim dizer... Só que ela volta boa mãe e esposa amorosa, ela e Felipe trocando juras e beijos de amor.  Não há o compromisso à força, nem as convenções sociais.  Existe, sim, uma família.  Daí, por mais que eu saiba do passado, só faço lamentar que o mocinho tenha se tornado um adúltero e Lívia uma “destruidora de lares”.  Pior ainda, parece que vão fazer slut shaming para convencer o público dessa fase que Melissa merece sofrer.  


De eu estou falando?  Ela não sabe de quem Alex é filho, teve um caso com o Dr. Roberto enquanto namorava Felipe.  Severa, que tem um nome improvável para o século XXI (*poderiam ter explicado que era promessa, ou homenagem a alguém*) sabe de tudo, mas é chata e autoritária, muito mais problemática do que no século XIX.  Aliás, como eu torcia para Severa ser um anjo, daqueles mal humorados, plantada para proteger Alex... Enfim, eu não sou espiritualista, eu não creio em carma, mas uma Melissa como a dessa fase me parece a vítima de um marido com falhas sérias de caráter.  Já Lívia foi colocada em uma situação difícil, de empoderada virou uma mocinha chatinha e vulnerável.  Aliás, a cena em que Pedro chega em Bellarosa de surpresa e a constrange a dormir (*fazer sexo, claro*) com ele me deixou nauseada.  



De resto, gosto de ver Massimo e Rosa juntos, os queria casando mesmo.  Carolina Kasting deveria ser protagonista, ela atua bem e sua Rosa está excelente em ambas as fases.  Já, Gema, como explicam esse marido nojento dela?  Se é o tatibitate da retribuição, a alminha da personagem deve carregar um peso enorme, não é, não?  Aliás, será que o marido dela é a reencarnação do pai de Melissa e Roberto do século XIX?  Mais ainda, onde está Berenice (Elisa Brites)?  Quem mais que ela poderia ter contas a ajustar com Melissa?  E se todo mundo reencarnou junto, se o Mestre e Ariel disseram isso em diálogo, onde está Berenice????   Outra coisa, de novo no confronto entre Vitória e Emília, a primeira está mais simpática.  Emília é intragável, mais ainda, o pai dela, Juca de Oliveira, que era marido de Vitória na outra fase, alimentou o ódio dela contra a mãe.  Alienação parental é o nome disso.

Enfim, sinto falta dos criados e suas tramas paralelas.  Carola (Ana Flávia Cavalcanti) mal aparece e sinto falta do humor.  Sim, nunca pensei escrever isso!  A trama está arrastada, pesada, depressiva até em certo sentido.  As crianças, Chico e Alex, são tristes.  Quero ver se Bianca e Felícia animam as coisas.  Até Salomé sumiu... De resto, a audiência já começou a cair.  Houve os picos de 30 no Rio, recordes em São Paulo, coisa que novela das seis não fazia a tempos, mas já retrocedeu para 20.  Motivo?  Acho que isso tudo que eu comentei ajuda a entender.  A novela está chata e com pontas soltas.


É isso.  No geral, acho a novela agradável, mesmo nesta fase.  Deixou de ser de época e passou, de certa forma, a ser uma novela rural.  Acredito que isso tenha agradado a parte do fandom da novela, uma parte cujos comentários, às vezes, assustam.  Não querem ver favela, violência, funk.   Eu não faço questão, mas novelas podem ser boas e realistas. Criticam o excesso de sexo de outras produções e, claro, louvam Além do Tempo por não ter homossexuais...   Sem comentários... Enfim, se tiver tempo, entro com um texto de Os Dez Mandamentos amanhã, depois da abertura do Mar Vermelho.  Isso, claro, se não adiarem de novo... 

1 pessoas comentaram:

Meu pai que assiste a novela disse que a outra fase era melhor. Acho que Felipe e Lívia para mim nunca fizeram muita diferença, sempre gostei mais das tramas paralelas. A Lívia tá sonsa, em compensação, a Anita de mocinha romântica voltou mulher independente, mas já tá no catecismo de que ela precisa de romance pela Lívia. Ainda sobre a Lívia , como disse um crítico de tv, seria interessante se ela se tornasse a vilã da novela.

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